Nasci em 2002. O ano em que a moeda única entrou em circulação, ano de um raro acontecimento matemático, um minuto palíndromo, às 20:02 do dia 20 de fevereiro, ano de um mau arranque português no Mundial 2002. Também o ano em que, tragicamente, Buchecha ficou sem Claudinho e, por conta disso, o mundo com uma letra obrigatória, de Adriana Calcanhotto, em karaokes embebecidos, matando as mágoas da lembrança de que, pela mesma época, Peggy Lee nos deixou. Tragédias para debaixo do tapete, foi em 2002 que, em meio à minha fornada, nasceu MC Loma, do grupo “MC Loma e as Gêmeas Lacração”.
Aparentemente não é coisa pouca nascer em 2002, ou em qualquer outro ano. Tem-se direito a rótulo. Sou da geração Z, do fim do abecedário. Quem ri por último, ri melhor, dirão. Os experts em Gen Z da McKinsey não são de superstições – quando rio é para não chorar, informam-me.
Conta-me, então, o artigo “What is Gen Z?” que a marmanjada de 2002 não vê o caso bem parado. É gente que gosta de ecrã, TikTok, armazéns de roupa da Shein e de pressionar outros, outras e grandes empresas pelas redes sociais. Não gosta de alterações climáticas e de exclusão social. Os zês são gente idealista, aspirante a ser feliz. Feliz!? Sim, com asterisco. É que, como Millôr Fernandes um dia bem receitou, “o dinheiro não dá felicidade, mas paga tudo o que ela gasta” e, nesse parâmetro, não é famoso o quadro que nos pintam: a instabilidade e a insegurança financeira no presente, e quanto ao futuro, grassa pelas mentes dos zês como ópio no tempo das suas guerras.
A arrumação de gerações em armários, uns em carvalho francês, outros do IKEA – dependendo do peso das respetivas vacas e do estado da globalização – dá-nos uma novidade pouco nova: os humanos não são raça de bem-estar.
Escrevo isto no final de um dia em que vi ‘Maestro’, um brilharete cinematográfico sobre a vida de Leonard Bernstein, e enquanto ouço Leonard Cohen. Boa gente, os Leonards: um da Greatest Generation, outro da Silent Generation; um bi e cis, outro hétero e cis.
Nos seus tempos, Leonard Bernstein e Leonard Cohen.
Você é muito engraçado